O ano que agora termina marcou as nossas vidas. Tanta coisa mudou e tantos planos caíram por terra, mostrando a nossa fragilidade perante o imprevisto. Mas há uma consequência desta pandemia que não podemos esquecer: a nossa capacidade de trabalharmos em conjunto, à escala local, nacional e internacional.

 

A vacina que agora está disponível é uma demonstração da força que temos quando nos focamos no bem comum. Mas todos os pequenos gestos e ações que foram desenvolvidos por quase todos nós e o esforço enorme que recaiu sobre tantos que, na linha da frente do combate à pandemia, não hesitaram em sacrificar o seu interesse pessoal em prol do interesse coletivo dão-nos o alento que precisamos para enfrentar o ano novo e os seguintes.

Serão anos de recuperação do que perdemos. Serão anos de correção dos erros do passado. Serão anos que nos exigirão lucidez, trabalho e, sobretudo, solidariedade. Será uma década que a História registará de forma inevitavelmente destacada – não deixemos que esse registo seja o de uma década perdida ou destruída.

Em 2021 o tema escolhido pelo Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz é “A cultura do cuidado como percurso de paz”.

Também eu desejo que o ano 2021 seja o ano da cultura do cuidado. O ano que recomeçamos com uma atenção redobrada em relação aos outros e em que a solidariedade se concretize nos pequenos gestos e atos, mas também na responsabilidade dos que estão na linha da frente da transformação da sociedade, em particular dos políticos.

Muitos portugueses, sobretudo portuguesas, têm um papel de cuidadores de familiares doentes ou fragilizados. O ano da pandemia foi o ano em que reconhecemos a sua importância através do Estatuto do Cuidador Informal. Por vezes tardamos a reconhecer a relevância que algumas das funções sociais que desempenhamos anónima e informalmente tem para a sociedade, para o bem comum.

 

A política do cuidado não é mais que a formulação da nossa obrigação coletiva de construirmos um país e um mundo melhor para todos. É a negação racional e emocional dos populismos, da xenofobia, da visão ultraliberal da economia.

Acredito numa forma de política assente no primado do cuidado como forma compreensível para todos do objetivo principal da nossa própria existência em comunidade. É esta a vacina contra o discurso de ódio que persiste em minar a confiança que precisamos de ter uns nos outros.

Dependemos uns dos outros. Devemos cuidar uns dos outros. Esta é a grande lição que podemos tirar de 2020. É esta a bússola que nos deve orientar em 2021.

Presidente da Câmara de Matosinhos

Drª. Luísa salgueiro