Os investigadores do fenómeno, em geral, e nós os que andamos aí pela rua, em particular, alarmamo-nos com o aumento do consumo de todos os géneros de droga, as sintéticas e as «clássicas». Por seu lado, as forças de segurança espantam-se com as quantidades que se traficam, medidas já não em quilos, mas em toneladas. Mas haverá mesmo motivo para surpresa?

Desde novembro de 2001, a aquisição, posse e consumo de drogas deixou de ser considerado crime em Portugal. Com aquelas subtilezas que muito entretêm os legisladores, diz-se na lei que o consumo foi descriminalizado, mas não despenalizado. Como se o comum dos mortais entendesse essas minudências… O que é verdade é que passou para a opinião pública a ideia de que, legalmente, consumir não traz problemas. E para que o «mercado» esteja abastecido, há que produzir e comercializar. Ou alguém pensa que é de outra forma?

Com o «lugar paralelo» do aborto passou-se exatamente o mesmo: que era para evitar que as senhoras fossem parar à cadeia –hão-de dizer-me quantas foram condenadas…- e nada mais. Pois, agora, há quem afirme que, entre os «legais» e os clandestinos –que não desapareceram! -, o número deve chegar aos 30.000. É como se uma capital de distrito do interior do país fosse todos os anos riscada do mapa.

Agora, está na berlinda a eutanásia. Evidentemente, é “só” para meia dúzia de casos de extremo sofrimento, dizem os pró-morte. Mas, se for aprovada, verão o efeito dentro de cinco ou dez anos. Verão como os pressupostos de hoje serão modificados imediatamente no início da legislatura seguinte para a tornar uma opção tão livre como a droga que aumenta assustadoramente ou o aborto que risca do mapa as tais cidades médias. Verão.

Vem-me à mente o que se ouve sobre as avalanches.  No princípio, está apenas uma insignificância de neve. Neve branca e pura. Atraente. Mas, mal começa a deslizar, outros bocados se lhe juntam. E torna-se um movimento imparável que imediatamente se suja, mistura com pedras e detritos, se torna lama e porcaria. E destrói. Destrói quanto pode alcançar na sua febre de destruir.

É por isso que eu não gosto de avalanches.